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Origem das crenças negativas nas crianças e a influência na saúde mental adulta. Antonio Carlos Zogbi Perette, Maria Alice Fontes

No inicio da infância e na adolescência é que se formam estruturas cognitivas que o individuo usa para entender suas próprias experiências de vida. Essas estruturas são chamadas de esquemas. Estes contêm crenças que nortearão como a pessoa irá compreender o mundo e reagir a ele na vida adulta.

Portanto, é muito importante darmos atenção especial ao que fazemos e dizemos às crianças. De acordo com a America Academy of Child and Adolescent Psychiatry, as crianças teriam algumas necessidades para desenvolverem uma boa saúde mental: 1) amor incondicional da família; 2) auto confiança e auto estima; 3) ambiente seguro com vínculos estruturados com outros indivíduos; 4) disciplina e direcionamento positivo por familiares, cuidadores e professores; 5) oportunidade para compartilhar com outras crianças. Além disso, é preciso desenvolver nelas um senso de autonomia, competência, identidade, liberdade de expressar emoções e pensamentos, espontaneidade e lazer. É fundamental estabelecer limites realistas e ensinar a criança a ter autocontrole.

Sabe-se que alguns tipos de experiências negativas no inicio da vida podem dar origem a esquemas que comprometerão a saúde mental do individuo na vida adulta. Isso ocorre, por exemplo, quando há trauma físico, abuso, negligência e exposição à violência doméstica e na comunidade. A criança ainda pode ser privada de atenção por parte dos pais ou cuidadores, ter carência de proteção e amor. Até a falta de limites podem ser experiências negativas.

Um estudo recente (Belden, 2015) descobriu que crianças com história de sentimentos de culpa patológica e depressão na infância teriam mais chances de, no futuro, desenvolver doenças mentais como: depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo. Este estudo relacionou o volume de uma certa região do cérebro, ínsula anterior, os sintomas de culpa nas crianças e a ocorrência de depressão na vida adulta. Os resultados apontam que o sentimento de culpa nas crianças e as alterações em seus cérebros, parecem predizer a depressão na vida adulta. Os riscos de transtornos mentais devem ser identificados entre os 4 a 12 anos, com objetivo de iniciar medidas preventivas mais cedo na vida, protegendo as crianças de transtornos mentais na vida adulta. Desta forma fica evidente que a intervenção precoce é realmente importante.

Enfatizamos então, a importância do que é dito e feito às crianças e adolescentes. É preciso desenvolver neles crenças positivas que ajudarão a formar seus autoconceitos. Essas crenças devem transmitir que eles são capazes, competentes, adequados, atraentes, amados, que têm valor, que podem e devem fazer o bem e que têm qualidades para se relacionarem com outras pessoas. Sentimentos como compaixão e solidariedade, também são fundamentais serem incentivados, pois podem contribuir para maior gratificação em seus relacionamentos sociais e afetivos por toda a vida.

Entretanto, dar ênfase às experiências positivas não é deixar que as crianças façam tudo sem limites ou disciplina. As crianças precisam ter oportunidade de explorar deu ambiente, desenvolver novas habilidades e alcançar independência. Ao mesmo tempo, precisam aprender que certos comportamentos são inaceitáveis e que eles são responsáveis pelas consequências de suas ações. É importante lembrar que não precisamos controlar as crianças, mas ensiná-las a controlarem a si mesmas.
Como membros de uma família, as crianças precisam aprender as regras da unidade familiar. Receber orientação e disciplina de forma justa e coerente. Desta forma, elas vão levar essas habilidades sociais e regras de conduta para a escola e, eventualmente, para o local de trabalho.

Preservar a saúde mental das crianças envolve o cuidado com certos conteúdos, muitas vezes ditos pelo pais no calor das discussões. Estes podem causar marcas psicológicas que as crianças carregarão por toda a vida. Impossível garantir o equilíbrio dos pais, pois eles podem também estar estressados, terem suas crises de ansiedade ou depressão. Todavia, nunca se deve dizer as crianças que são: “burras”, “incompetentes”, “não fazem nada direito”. As crianças não devem se sentir “estorvos” ou “empecilhos” para a vida dos adultos. O que as crianças sentem e o que é dito a elas no inicio da vida, principalmente pelos pais e cuidadores, costumam se tornar verdades absolutas dentro do psiquismo, que absorve e internaliza em seus esquemas cognitivos, e trará consequências posteriores, especialmente na vida adulta.

Vale ressaltar que as crianças não apresentam os mesmos sintomas que os adultos quando estão sofrendo psicologicamente. Um estado de alerta deve ser identificado quando se percebe: tristeza ou irritabilidade em excesso; declínio no desempenho escolar, apesar de grandes esforços; excesso de preocupação ou ansiedade; recusa repetida para participar de atividades com outras crianças; hiperatividade, pesadelos persistentes; desobediência, birras ou agressão.

Crianças que apresentam estes sintomas de alerta devem ser encaminhadas o quanto antes para uma avaliação psicológica e para Terapia Cognitivo-Comportamental, a fim de tratar problemas com seus autoconceitos e as crenças disfuncionais através da reestruturação cognitiva, desenvolvimento de habilidades e resolução de problemas. Afinal, um auto conceito positivo é fundamental para se ter uma boa auto estima e uma boa saúde psicológica na vida adulta.

Referencias:
• Young J.E., Klosko J.S., Weishaar M.E. Terapia do Esquema, guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre. Artmed. 2008.
• Serra A.M.M. Terapia Cognitiva e autoconceito em crianças e adolescentes. Disponível em: http://itcbr.com/artigo_drana_criancas.shtml. Acesso em: 12 de Jan. 2015
• Ponte M.M.D. 7 frases que os pais jamais devem dizer aos seus filhos. Disponível em: http://www.psiconlinews.com/2014/09/7-frases-que-os-pais-jamais-devem-dizer.html. Acesso em: 12 de Jan. 2015
• Mental Health America. What Every Child Needs For Good Mental Health. Disponível em: http://www.mentalhealthamerica.net/every-child-needs. Acesso em: 12 de Jan. 2015
• Belden AC, Barch DM, Oakberg TJ, April LM, Harms MP, Botteron KN, Luby JL. Anterior insula volume and guilt: neurobehavioral markers of recurrence after early childhood major depressive disorder. JAMA Psychiatry. 2015 Jan 1;72(1):40-8.
 

2015-01-14 00:00:00

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