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Envelhecimento e quadros demenciais. Maria Alice Fontes

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial. Graças ao avanço médico-científico pode-se observar atualmente o aumento da longevidade. No entanto, determinadas condições patológicas, cuja incidência é maior na população idosa, tornaram-se evidentes.

As demências compõem um número importante desses quadros patológicos. Entende-se por demência o conjunto de sintomas conseqüentes de doenças que afetam o cérebro e que se caracterizam fundamentalmente pelo comprometimento da memória, além de prejuízos em pelo menos mais uma das funções neuropsicológicas, e que afetam de forma significativa o funcionamento social e ocupacional do paciente. Os indivíduos acometidos pelas demências geralmente apresentam dificuldade no controle das emoções, na resolução de problemas, podem apresentar mudanças na personalidade e problemas de comportamento.


Os quadros demenciais têm importante impacto nos aspectos econômico, social e familiar do paciente. Conforme os sintomas avançam, aumenta também a dependência do paciente e a sobrecarga na família tanto emocional como financeira.

A perda dos neurônios e a conseqüente deficiência na comunicação entre eles ocorrem em todos os tipos de demência. Embora as causas específicas dos quadros demenciais ainda sejam um grande mistério, sabe-se que eles resultam de diversas doenças físicas. A seguir apresentamos algumas informações simples a respeito das demências causadas por doenças do Sistema Nervoso Central, como Alzheimer, a Parkinson e a Esclerose Múltipla. 

  • Doença de Alzheimer

A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa, de início gradual e curso progressivo, e que afeta o cérebro causando prejuízos na memória, e dificuldades na linguagem, na realização de atividades motoras, na percepção e nas funções executivas.

A prevalência da DA na população mundial é de 2 a 4% entre as pessoas com mais de 65 anos, embora esse número aumente com a idade, chegando a mais de 20% nos sujeitos com mais de 85 anos. O curso é progressivo e pode ser dividido em fases, não há fronteiras bem definidas entre elas, e a evolução do quadro de cada paciente é particular.

Na fase inicial da Doença de Alzheimer, os principais sintomas são: perda da memória recente, desorientação no tempo e espaço, mudanças na personalidade e no comportamento habitual do paciente, dificuldades na comunicação por não encontrar palavras adequadas, distúrbios do sono e dificuldades em atividades relacionadas ao auto-cuidado. Estes sinais na fase inicial da doença são, em geral, vistos como parte natural do processo de envelhecimento, o que pode retardar o diagnóstico e o início do tratamento.

Com o curso da doença ocorre o agravamento dos sintomas anteriores, além de prejuízos na marcha, lentificação dos movimentos, diminuição da capacidade sensorial, agitação mental, ilusões ou alucinações, inapetência, perda de peso, incontinência urinária, e o comprometimento total da orientação tempo-espaço, tornando o paciente bastante dependente de cuidados. Este quadro pode chegar a ser incapacitante, com restrição do paciente ao leito o que facilita o surgimento de escaras, infecções respiratórias e urinárias.

  • Doença de Parkinson

A Doença de Parkinson é uma afecção neurodegenarativa crônica que afeta principalmente o sistema motor do paciente. Os sintomas motores mais comuns são: tremor, rigidez muscular, acinesia e alterações posturais. Entretanto, manifestações não motoras também podem ocorrer, tais como: comprometimento da memória, depressão, alterações do sono e distúrbios do sistema nervoso autônomo. Embora possa ocorrer também em pessoas mais jovens, sabe-se que 1% da população acima dos 65 anos é acometida pela doença.

A Doença de Parkinson se dá pela diminuição de uma substância no Sistema Nervoso chamada dopamina. As células localizadas numa região do cérebro denominada substância negra são responsáveis pela produção de dopamina; porém na Doença de Parkinson essas células sofrem um processo degenerativo, o que prejudica a produção dessa substância.

  • Esclerose Múltipla

Esclerose Múltipla é doença inflamatória crônica bastante rara que acomete, em geral, indivíduos jovens e provoca dificuldades motoras e sensitivas que comprometem muito a qualidade de vida de seus portadores. Não se conhecem ainda as reais causas da doença. Sabe-se, porém, que sua evolução difere de uma pessoa para outra e que é mais comum em mulheres e em indivíduos de pele branca. A característica mais importante da esclerose múltipla é a imprevisibilidade dos surtos.

O aparecimento e a remissão dos sintomas se dão de forma imprevisível, é comum os surtos serem seguidos de períodos de remissão com recuperação completa ou quase completa do quadro. O intervalo entre os surtos não é previsível, podendo ocorrer entre semanas, meses ou até mesmo anos, porém com o passar do tempo tornam-se mais freqüentes e intensos. Normalmente o primeiro surto ocorre entre os 20 e 40 anos de idade.

Os sintomas mais comuns da EM são: visão turva ou dupla; perda da percepção das cores; cegueira parcial; fadiga muscular e dos membros; dificuldades na coordenação motora; desequilíbrio, causando dificuldades na marcha; paralisia parcial ou completa (em casos mais graves); formigamento (parestesias); entorpecimento; sensação de “picadas na pele”; lentidão; tremores; vertigem. Cerca de 50% dos pacientes apresentam comprometimento de funções como a atenção, a memória e as funções executivas, porém essas queixas usualmente são moderadas. Os sintomas depressivos também estão presentes de forma significativa em boa parte dos casos.

Tratamento das demências

A avaliação e o tratamento dos quadros demenciais exigem a atuação de uma equipe multiprofissional, composta por médico neurologista, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, e até mesmo outros profissionais da área da saúde.


A doença de Alzheimer e Parkinson constituem a grande maioria dos casos e não são curáveis. Os tratamentos têm como objetivo retardar a deterioração e melhorar sintomaticamente o paciente. Na Esclerose Múltipla o tratamento busca reduzir a possibilidade de um novo surto ou da exacerbação da doença. Isso significa tentar aumentar o intervalo entre um sintoma e outro.

A família tem um papel muito importante em todas as fases do tratamento: orientação ao paciente, cuidados com a medicação, cuidados com a saúde geral do paciente, contatos freqüentes com o médico são intervenções fundamentais e diferenciam o tratamento. Muitos são os casos em que o paciente pode se colocar em situações de risco como: atravessar uma rua sem cuidado, deixar o fogo aceso no fogão e ir dormir, deixar a porta da casa aberta. A família tem papel fundamental pois deve aprender a ouvir muitas coisas sem levar muito a sério e ainda assim estimular o paciente para conservar os vínculos sociais, os interesses e as diversões, preservando o que for possível de dignidade humana. Sem um bom suporte familiar não é possível tratar pacientes demenciados.


O psicólogo também tem um papel muito importante tanto na avaliação como no tratamento das demências. Uma avaliação neuropsicológica, juntamente com outros exames solicitados pelo médico é imprescindível para se identificar as funções acometidas pelo quadro demencial. O psicólogo além de trabalhar na avaliação e reabilitação neuropsicológica do paciente, também atua junto ao cuidador, que sofre uma sobrecarga em vários aspectos, e que precisa aprender a lidar com a perda progressiva das capacidades sociais, intelectuais e afetivas de um ente querido.

 

Referências bibliográficas

American Psychiatric Association, Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – DSM –IV. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

http://www.alzheimermed.com.br

http://www.anem.org.pt

http://www.ninds.nih.gov/disorders/dementias/detail_dementia.htm

http://www.ninds.nih.gov/disorders/multiple_sclerosis/multiple_sclerosis.htm

http://www.parkinson.med.br

http://www.parkinsons.org.uk

2017-11-01 00:00:00

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