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A dor da perda, o apego aos ganhos e os perigos da intuição no mercado financeiro. Maria Alice Fontes, PhD; Bo Williams.

A psicologia econômica tem o objetivo de buscar a intersecção entre as áreas da psicologia e a teoria econômica, relacionando as questões matemáticas, com a área do comportamento, especialmente no processo de decisão financeiro. Neste campo tenta-se agregar o conhecimento dos fatores emocionais e cognitivos nas decisões econômicas, tanto individuais, quanto no impacto que representam para toda a sociedade.

Em 1979, Kahneman e Tversky introduziram um estudo psicológico, chamado Prospect Theory, que buscou estudar como o ser humano faz as suas decisões quando está envolvido com situações de risco econômico. Esse trabalho mostrou que decidimos principalmente baseados em fatores psicológicos, emocionais, e não simplesmente matemáticos. Estes autores discutiram um conceito universalmente aceito: ganhos trazem alegria e perdas trazem dor.

Kahneman mostrou que podemos ter percepções diferentes sobre situações exatamente iguais. Qual é a diferença entre ganhar R$ 500,00 ou ganhar R$ 1.000,00 e depois perder R$ 500,00? Matematicamente, o resultado é o mesmo. Mas, de acordo com Kahneman, as perdas têm maior impacto emocional do que uma quantia equivalente de ganhos. Nos sentiremos diferentes na primeira situação em relação à segunda.

Na primeira situação, nós ganhamos. Mas, na segunda situação, ganhamos e depois perdemos. Então, a nossa forma de sentir, nossa percepção acerca de um mesmo resultado é diferente.

Entretanto, o ponto surpreendente da teoria de Kahneman e Tversky é que a dor da perda pode ser duas vezes maior do que a alegria associada com os ganhos. O impacto dessa teoria no mundo financeiro foi tão significativo que deu a Kahneman, doutor em Psicologia, o Prêmio Nobel de Economia, em 2002.

Outra revelação fundamental desta pesquisa é que aqueles que já têm um lucro garantido arriscam menos, enquanto os que já têm perdas garantidas arriscam mais. Ou seja, quando existe a chance de perdas, os indivíduos tendem a assumir risco cada vez maiores, a fim de evitar a dor.

Quando analisamos esta teoria, observamos que a forma natural do ser humano pensar é absolutamente contra a matemática saudável do mercado, contra a qual o trader, o investidor não deveriam se opor para ganhar dinheiro no longo prazo. Todavia, mesmo sendo um conhecedor da matemática correta, o trader parece não conseguir agir de acordo com o seu conhecimento. Isso ocorre porque ele estaria indo contra a sua intuição, que busca incessantemente evitar a dor da perdas.

O trader saudável deveria cortar imediatamente suas perdas, e deixar seus ganhos crescerem, sem ter a necessidade imediata de coletar o que já foi conseguido. De uma forma mais direta: stopar rapidamente os trades e posições perdedoras, e fluir junto com os trades ganhadores.

Quando o trade está dando certo, existe uma enorme tentação de realizar o lucro. Isso trás a falsa sensação de segurança e a sensação de “ter razão”. Além disso, aprendemos desde muito cedo que comprar caro é ruim e comprar barato é bom. Por isso, quando preço sobe rapidamente, não queremos comprar “tão caro” e não acreditamos que o preço possa ir longe. Assim, realizamos os trades positivos prematuramente, e com isso, perdemos a vantagem matemática da tendência.

Mas, infelizmente, o ser humano tem um lado intuitivo muito forte. Existem dificuldades inatas de cortar rapidamente as perdas e deixar fluir os ganhos. Ao lado da dor que se busca evitar, surge a esperança de reverter a situação, com uma visão distorcida a respeito dos riscos. No final, ao ir atrás do prejuízo, uma pequena perda pode se tornar um pesadelo financeiro e emocional.

Portanto, podermos entender que os indivíduos avaliam ganhos e perdas de formas diferentes; e que as decisões econômicas são tomadas de acordo com a percepção de como nos sentimos em relação aos ganhos e a perdas, de forma que, entre duas opções semelhantes, a maioria prefere aquela que evita a dor e tem a gratificação imediata.

Conclui-se que para chegar as decisões econômicas saudáveis é preciso um equilíbrio perfeito entre o lado racional e o intuitivo. Nosso pensamento não deve ser exclusivamente matemático, mas também não podemos seguir apenas o que é natural, a intuição. Este seria o maior desafio de um bom trader, questionar a sua própria intuição e seguir a matemática do mercado.

2012-08-22 00:00:00

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