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Violência e saúde mental, Marcelo Feijó de Mello

Como a violência que existe em nosso país pode nos afetar? Mesmo quando não somos vítimas diretas de uma violência, esta também nos atinge através da opressão que ela causa. Somos bombardeados por imagens, notícias e histórias que nos chegam não somente através da mídia, como também através de nossos relacionamentos sociais. A violência é tema de nosso cotidiano e a principal preocupação do povo brasileiro da atualidade.

Quais são as consequências da violência diária em nossas vidas?

Toda esta informação nos leva a uma atitude defensiva, com consequentes limitações nas atividades que fazemos no cotidiano. Deixamos de sair a qualquer horário, nos preocupamos quando nossos filhos e companheiros saem as ruas; a demora além do esperado nos angustia, levando a pensamentos sobre o que poderia ter acontecido. Consequência disto é uma queda na qualidade de vida. Sonhamos às vezes na vida em outros lugares, países. Esta tensão e limitação de nossa liberdade é também uma diminuição da nossa saúde mental, com aumento de uma reação de estresse, aumentando assim os riscos para o desenvolvimento de depressão, ansiedade, e abuso de substâncias. 

Quais as reações habituais frente a violência ?

As pessoas que são diretamente atingidas pela violência têm uma maior chance de adoecer. Quanto mais grave for o ato violento, mais bárbaro em sua motivação, maior o risco. Sabemos que as pessoas que passam por agressões ou abusos causados por outras pessoas, quanto mais incompreensível for, maior a chance de desenvolver um quadro de estresse pós-traumático ou uma depressão, do que um indivíduo que passou por uma experiência como uma catástrofe natural como um tsunami, por mais violento que este possa ter sido.

A violência leva a uma reação do organismo, com mobilização de todas as suas defesas, através de respostas hormonais, vegetativas, imunológicas, com modificações do funcionamento cerebral para a defesa imediata. Toda esta cadeia de reações nos permite sobreviver e enfrentar agudamente a ameaça, mas ela é aguda, feita para durar pouco tempo.

Quais são as fases que enfrentamos após um evento de violência?

Qualquer pessoa passará por um período de choque após o ocorrido, quando terá insônia, crises de choro, ansiedade, medo, raiva, expressão desta reação necessária para que haja uma “digestão” do ocorrido. A maioria das pessoas passa por esta experiência com um aprendizado e marcas, que não necessariamente precisam ser negativas, muitas vezes crescemos com experiências traumáticas.

Por quê algumas pessoas efetivamente adoecem após atos de violência?

Algumas pessoas não conseguem sair desta reação de resposta a agressão, seu sistema por vários motivos permanece em alerta, o estresse persiste, levando ao adoecimento nas suas várias formas. Muitas podem ser as razões para isto: características genéticas, temperamento, treinamento, suporte social, condições do indivíduo no momento em que viveu a violência, tipos de violência mais graves, mais incompreensíveis, bárbaras, ou ter vivenciado experiências traumatizantes durante sua infância e adolescência.

Importante é reconhecermos que algumas pessoas podem adoecer diante de um ato violento, e que estas necessitarão receber ajuda profissional para sair deste processo. O grau de violência em nosso país nos deve alertar sobre estas possibilidades, já que muitas pessoas acabam sofrendo por anos, sem saber que podem estar doentes, pois ainda na maioria das vezes não se faz a correlação entre eventos traumáticos violentos graves e adoecimento. Estas pessoas são a minoria, a grande maioria as supera, com isto tomamos o cuidado de não medicalizar a violência, somente reconhecer aqueles que não elaboram a experiência traumática.

Como a sociedade pode enfrentar a violência?

A violência como um tudo é um problema social grave em nosso país, que causa grande sofrimento e danos a todos. A sociedade como um todo deve procurar saídas para esta situação através de ações que sejam executadas por suas representações públicas nos 3 poderes. Porém também é uma ação que deve ser executada individualmente, dentro de cada família onde os valores de respeito e cidadania devem ser ensinados para serem executadas na sociedade.

 

Marcelo Feijó de Mello é Professor Adjunto do Depto de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP); Coordenador do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (PROVE); Presidente do Instituto Prove; Pós-doutor em neurociências pela Brown University; Doutor em Psiquiatria pela UNIFESP e pelo Hospital do Servidor Público Estadual.

 

2011-04-11 00:00:00

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