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Os meus, os seus e os nossos: a família reconstituída em pauta. Alessandra de Camargo Costa, Maria Alice Fontes

Qual o papel da família na sociedade?

A família é definida como unidade básica da sociedade formada por indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços afetivos (Wikipédia). A função primordial da família é a proteção, apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. Todo ser humano tem uma necessidade humana básica de sentir-se parte de um grupo, filiar-se, e a sensação de pertencimento acontece inicialmente dentro do contexto familiar. O bem-estar está diretamente ligada com as experiências mais precoces do sujeito em sua família (Wagner, 1999), sendo na família que iniciamos nosso processo de socialização e nossa noção de individualidade.

Quais são as mudanças observadas nas famílias nos dias de hoje?

A família nasce a partir de um casal, mas este após gerar um ou mais frutos pode decidir encerrar o vínculo matrimonial e ir em busca da felicidade a dois novamente. Há exatamente 30 anos depois de instituído, o divórcio atingiu sua maior taxa desde 1984. Nesse período a taxa de divórcios teve crescimento superior a 200%, o número de dissoluções chegou a 231.329, ou seja, para cada quatro casamentos foi registrada uma dissolução. Apesar do aumento da taxa de divórcios, as pessoas continuam buscando a felicidade a dois através do recasamento. Termos como família reconstituída, padrasto, madrasta, enteado, meio-irmão, ex-mulher já fazem parte de grande parte das conversas nos dias de hoje.

O que é uma família reconstituída?

A família reconstituída é a estrutura familiar originada do casamento ou da união estável de um casal, na qual um ou ambos de seus membros tem pelo menos um filho de um vínculo anterior. Seria uma família na qual ao menos um dos adultos é um padrasto ou uma madrasta.

Quais são as dificuldades que podem ser enfrentadas nesse novo sistema familiar?

Alguns dos problemas encontrados pelas famílias reconstituídas são decorrentes dos vínculos anteriores ao casal recasado. O novo casal frequentemente traz algum tipo de perda de uma relação familiar anterior, o que influencia de forma marcante o recasamento. Na ocasião do primeiro casamento, o casal tem um vínculo que antecede o aparecimento dos filhos, já no segundo casamento sabe-se que as experiências conjugais anteriores, frequentemente influenciam no novo relacionamento, especialmente quando os dois lados trazem filhos e geram outros.

Quais são os desafios dos recasamentos?

No recasamento trazemos três conjuntos de bagagem emocional: 1) da família de origem; 2) do primeiro casamento; e 3) do processo de separação, divórcio ou do período entre os casamentos. Novas regras precisam se adaptar às anteriores, por exemplo: o marido ou companheiro pode não ser o pai de todos os filhos, mas se vê na necessidade de apoiar na educação dos filhos de sua nova companheira. Os filhos precisam aprender a conviver entre meios-irmãos, de forma que nem todos tem vínculos de sangue, e podem ter seus próprios problemas pessoais. Em geral, o papel de pai ou mãe é conhecido, por outro lado, não se sabe de antemão a medida certa entre disciplina e amor para os enteados. Como diz a cultura popular: os meus, os seus e os nossos. Isto evidencia a complexidade da vida cotidiana destas famílias.

O que acontece com os filhos?

As repercussões da separação e o recasamento dos pais variam muito de acordo com a idade, maturidade e estrutura emocional dos filhos. Entretanto, alguns pontos são críticos: assim como o casal em separação negocia a partilha dos bens materiais adquiridos durante o casamento, estes também tem que negociar os filhos. Filhos não se partilham, se compartilham mediante uma negociação. Este pode ser um ponto de grande atrito e desgaste, pois o casal original será extinto no momento da dissolução do casamento, mas as relações parentais permanecem. Não existe ex-pai ou ex-mãe e ambos terão que enfrentar negociações de questões relativas aos filhos. Da mesma forma, pode existir um conflito de lealdade por parte dos filhos em relação aos genitores, por exemplo, podem se sentir culpados pelo amor que compartilham com o pai e sua companheira, como se estivessem sendo desleais e magoando a sua própria mãe, e vice-versa. Filhos sempre tem um desejo de manter a família original unida. Estes sentimentos podem provocar ansiedade nas crianças menores e acirrar alguns conflitos entre o casal. Mágoas passadas não elaboradas entre o casal original também podem resultar numa campanha de um dos genitores contra o outro configurando a Síndrome de Alienação Parental. Veja detalhes no nosso artigo sobre este assunto: http://www.plenamente.com.br/artigo.php?FhIdArtigo=108

Como enfrentar o recasamento de forma equilibrada?

Alguns fatores podem contribuir no momento de reconstituição familiar:

  1. É importante resolver as questões do divórcio, guarda dos filhos, pensão e partilha antes de iniciar novos relacionamentos. Assim pode-se evitar o cruzamento ou superposição de negociações e dificuldades;
  2. Deve-se evitar todo tipo de crítica ou comentário negativo relativo ao outro genitor feito diretamente para os filhos, pois estes precisam sentir-se livres para amar o pai e a mãe, independente dos sentimentos que os genitores ainda carreguem um pelo outro;
  3. Vale estar atento para que o papel de pai e de mãe não seja nunca substituído pelo novo companheiro do casal recasado. Quanto melhor definido os papéis, maiores as chances do relacionamento familiar ser saudável. O novo companheiro pode ajudar a medida que consiga dar apoio ao seu novo cônjuge em relação aos seus filhos, sem causar maiores conflitos do que aqueles já existentes. Entretanto uma boa dose de flexibilidade é necessária para que os ajustes aconteçam gradualmente e os filhos entendam e respeitem o lugar de autoridade que cada membro tem: pai, padrasto, mãe e madrasta;
  4. É fundamental que os pais entendam as dificuldades dos filhos de acordo com a fase do desenvolvimento que estão, concedendo tempo e espaço para a expressão dos sentimentos relativos ao passado. Deve-se tolerar a acomodação dos filhos com paciência, pois saber aguardar é fundamental para não sobrepor vivências antigas dentro das novas experiências que estão surgindo.

O que você pode fazer caso perceba que alguém está sofrendo mais que o esperado?

Caso você tenha dúvidas sobre o estado emocional dos seus filhos e note sinais de tristeza, depressão, ansiedade, agitação, tendência ao distanciamento, apatia ou qualquer quadro disfuncional procure um psicólogo para avaliar a situação e orientar sobre maneiras de enfrentar os conflitos evitando transtornos para as crianças e adultos.

Além da avaliação da criança, os pais frequentemente precisam de orientação profissional sobre como lidar com os tantos conflitos relativos ao recasamento.

Vale ressaltar que o bem-estar dos filhos e a saúde da família não é determinada pelo tipo de composição familiar e sim pela relação que se estabelece entre seus membros. Crianças e adolescentes precisam principalmente de um ambiente e de figuras que ofereçam suporte, limites, aceitação e acolhimento para expressarem tanto sentimentos de alegria e entusiasmo como os de raiva, hostilidade e tristeza.

Referências Bibliográficas:

  1. Wikipedia: a enciclopédia livre http://pt.wikipedia.org/wiki/Família
  2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: http://www.ibge.gov.br/english/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=283&id_pagina=1
  3. Mariana Pereira Santos Kotzias. Monografia para obtenção do certificado de especialização em terapia sistêmica: (2002) www.sistemica.com.br/docs/Mariana%20Koteias.doc
  4. Wagner et al. (1999) Configuração familiar e o bem estar psicológico dos adolescentes. Psicol. Reflex. Crit. Vo; 12 n1 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-79721999000100010&script=sci_arttext&tlng=pt

2010-07-15 00:00:00

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