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Disfunções cognitivas na esquizofrenia e relação com a demora no acesso ao tratamento médico. Adriana de Mello Ayres

Você sabe o que é a esquizofrenia?  

A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico que tem início no final da adolescência ou início da idade adulta, com curso crônico e/ou deteriorativo nas esferas social e ocupacional, gerando enormes custos pessoais e financeiros para os pacientes e seus cuidadores. Alguns sinais iniciais são: alucinações, sintomas negativos (apatia, falta de iniciativa e motivação), retraimento social, tendência ao isolamento, alterações de comportamento e déficits intelectuais globais associados à interrupção dos estudos, mau aproveitamento escolar e privação social. Com a evolução, outros sinais são apresentados, como: agitação, referência à escuta de vozes, sensação de perseguição etc.

Frente a estes sinais, a família ou pessoas que tem contato próximo ao indivíduo passam a se preocupar e buscar ajuda. Com certa freqüência tais sinais não são compreendidos como sintomas de uma doença, mas sim como manifestações espirituais e outras, fazendo com que o início do tratamento médico seja postergado, pois outras formas de ajuda são procuradas antes.

Esta falta de informação relacionada à esquizofrenia tem levado à demora no acesso ao tratamento médico, que tem sido investigada como ponto desfavorável à evolução e prognóstico da doença em vários aspectos, dentre eles, o cognitivo.

Os déficits cognitivos têm sido descritos como as características centrais da esquizofrenia e estudos têm investigado a hipótese do efeito negativo ou tóxico que a exposição aos sintomas psicóticos não-tratados pode ter sobre o funcionamento cognitivo, ou seja, quanto maior a duração da exposição aos sintomas psicóticos não-tratados (DUP), pior o funcionamento cognitivo, que embasa o funcionamento social e ocupacional o que foi comprovado em alguns estudos, porém não em outros.

Estudo realizado com amostra populacional da cidade de São Paulo dedicou-se a investigar tal hipótese e avaliou pacientes de primeiro episódio de esquizofrenia, considerando a demora para o primeiro contato e início do tratamento médico dos sintomas psicóticos. Pacientes com esquizofrenia (n=34) e controles saudáveis (n=70) foram submetidos à ampla bateria de testes neuropsicológicos destinada a avaliar as funções de atenção, velocidade de processamento da informação, memória verbal e visual, funções executivas e funcionamento intelectual global.  Os resultados mostraram que o funcionamento cognitivo sofreu influência negativa da DUP, ou seja, quanto maior o tempo de exposição aos sintomas psicóticos não-tratados, pior o desempenho dos pacientes nas tarefas de memória verbal, funções executivas e capacidade de abstração.

Qual a importância destes achados?

Se lembrarmos que a cognição é um conjunto de capacidades que habilitam os indivíduos a desempenhar uma série de atividades no âmbito pessoal, social e ocupacional, como por exemplo: ler um livro, pensar sobre as coisa e formas como elas ocorrem, aprender novas informações, solucionar problemas, fazer escolhas e conseguir seguir uma conversa, entre outras. Saber que a demora do início do tratamento da esquizofrenia prejudica as funções descritas, nos coloca frente a uma importante evidência: sabermos quais os sinais e sintomas desta doença e informarmos a população para que a busca e início do tratamento sejam mais rápidos, para evitar prognósticos ainda mais desfavoráveis nas diversas esferas, dentre elas, a cognitiva.

Neste sentido, as implicações destes achados são que, os déficits neuropsicológicos devem ser um dos alvos mais importantes de intervenção no tratamento da esquizofrenia, sendo fundamental a precocidade da identificação dos sintomas e início do tratamento médico.
 

Portanto, não se esqueça!
 
A esquizofrenia é uma doença que tem início no final da adolescência ou início da idade adulta.
 
Os critérios diagnósticos utilizados atualmente para o diagnóstico da esquizofrenia têm como base o CID – 10 (OMS, 1993) e o DSM-IV (APA, 1994) que colocam a presença de sintomas característicos por uma porção significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou menos, se tratado com sucesso), como:
 
·        Delírios; Alucinação; Discurso desorganizado; Comportamento desorganizado ou catatônico; Sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou avolição.
 
·        Acentuada disfunção social ou ocupacional, por uma porção significativa do tempo desde o início da perturbação.
 
·        Prejuízos em uma ou mais áreas importantes de funcionamento, como:
 
-Trabalho;
- Relações interpessoais;
- Ou cuidados pessoais acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início dá-se na infância ou adolescência, fracasso em atingir o nível esperado de aquisição interpessoal, acadêmica ou ocupacional).

 
 
Texto elaborado a partir das seguintes referências bibliográficas: 
 
  • Addington, J; Addington, D. Neurocognitive and social functioning in schizophrenia. Schizophr Bull. 25 (1): 173-82. 1999. 
  • American Psychiatry Association. Diagnostic and statistical manual of mental disorder. DSM-IV. 4th ed. Washington (DC): APA; 1994.
  • Amminger, GP; Edwards, J; Brewer, WJ; Harrigan, S; McGorry, PD. Duration of untreated psychosis and cognitive deterioration in first-episode schizophrenia - Schizophr Res. 1; 54(3): 223-30. Apr 2002. 
  • Ayres, AM; Busatto,GF; Menezes PR, Schaufelberger MS, Coutinho L, Murray RM et al.
  • Cognitive deficits in first-episode psychosis: A population-based study in São Paulo, Brasil. Schizophr Res. 2007 Feb; 90(1-3):338-43. 
  • Ayres, AM. Disfunções cognitivas em sujeitos portadores de esquizofrenia no Brasil: amplitude, gravidade e relação com a demora no acesso ao tratamento médico. São Paulo. Tese. (Doutorado). Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2009.
  • Barnes, TR; Hutton, SB; Chapman, MJ; Mutsatsa, S; Puri, BK; Joyce, EM. West London first-episode study of schizophrenia. Clinical correlates of duration of untreated psychosis. Br J Psychiatry. 177: 207-11. Sep. 2000.
  • Organização Mundial da Saúde. Classificação de Transtornos Mentais e Comportamento. Código Internacional de Doenças. CID-10. 10th ed. Porto Alegre: Artes Médicas. 1993.
  • Rund, BR; Melle, I;Friis, S; Larsen, TK; Midboe, LJ; Opjordsmoen, S et al. Neurocognitive function in first-episode psychosis: correlates with symptoms, premorbid adjustment, and duration of untreated psychosis. Am J Psychiatry.161(3):466-72. Mar 2004. 
  • Torrey, EF. Studies of individuals with schizophrenia never treated with antipsychotic medications: a review. Schizophr Res. 58: 101-15. 2002.

2009-10-12 00:00:00

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