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O renascer para a adolescência (autoria: Dr. Henrique Klajner)

Na vida, tudo se renova continuamente e nos mínimos detalhes. As modernas neurociências comprovam que os neurônios se renovam. Muitas renovações são tão rotineiras que até se tornam enfadonhas. Corpo e mente vivem, revivem, o ciclo vital é um eterno renascer.


Segundo autores atuais, a adolescência é um segundo nascer da criança. Nascida do ventre materno, ao chegar à puberdade, ela precisa ser parida do “ventre” familiar para o mundo “exterior”. Deverá assumir valores de um mundo ainda desconhecido, sem contar, desta vez, com qualquer modelo real para se inserir, como era o lar, e sem utilizar os que lá foram incorporados como base da evolução saudável, com sucessos, auto-estima, felicidade e, principalmente, se tiver recebido a auto-estimulação precoce e continuada.

 

Para continuar feliz, o adolescente deve obter sucessos ainda maiores fora do lar através de autoconquistas e isso só acontece quando, com esforços próprios, chega aos quatro objetivos para a autoafirmação e autoconfiança: encontrar uma nova identidade (a infantil não será mais útil, será descartada), aceitar as transformações físicas e mentais, assumir uma sexualidade e se inserir no grupo social e escolar. É uma tarefa gigante, mas indispensável para uma vida mental adulta sadia que se inicia quando a adolescência termina aos primeiros sinais de maturidade psicológica entre os 19 e 24 anos: libertar-se das figuras paterna e materna, elaborar a própria identidade, ter suas atividades reconhecidas por terceiros, assumir responsabilidades, saber lidar com cobranças, internalizar as figuras parentais e saber lidar com a insegurança deles em relação a si, ter relações afetivas com uma pessoa por vez e não como parte de uma turma, ter segurança para discordar sem o receio de rejeição pelo grupo (Scivoletto, 2004).


Segundo outros, na primeira mamada ao seio materno, pelo menos no que concerne à sexualidade. Todos são unânimes em que a adolescência se desenvolve tanto melhor quanto melhor tiver sido conduzida a infância porque a maturidade do adolescente depende de uma personalidade bem formada já na infância e é onde a auto-estimulação precoce e continuada é fundamental como ponto de partida para a auto-afirmação em todas fases da vida. O grande problema enfrentado pelos pais com seus filhos está no período em que estes precisam sair gradualmente do lar para o mundo, mesmo tendo sido auto-estimulados, porque os valores que transmitiram até então confrontam radicalmente com os novos, aliás, sempre antagonizados pelas famílias diante da possibilidade de os desviarem para comportamentos inaceitáveis. O relacionamento com os filhos, então, pode se tornar conflitivo, mas perfeitamente evitável, e chegar a um afastamento muitas vezes irreversível.


Dois procedimentos são fundamentais nessa transição para os pais não prejudicarem o jovem no cumprimento dessa difícil tarefa. Primeiro, aceitar que o renascer na adolescência é irreversível, que os valores dos filhos serão, “mesmo”, substituídos o que deve ocorrer sem traumas para nenhuma das partes; conscientizarem-se de que a triagem e incorporação dos novos valores serão feitas pelos filhos na dependência de sua própria personalidade desenvolvida e dos valores incorporados como base educacional recebida durante a infância. Mas, apesar de tudo, devem permanecer em alerta e vigilantes, sempre dispostos a os orientar quanto à seleção dos ambientes e grupos freqüentados, aos novos valores, hábitos e comportamentos, através de diálogos calmos, pacientes e amistosos, expondo suas opiniões e posicionamentos com argumentos de fácil compreensão, facilitando sua inserção em grupos adequados, e melhor, sem rupturas porque ainda dependem dos pais, sob todos aspectos, para existir. Portanto, é fundamental os pais estarem constantemente atualizados a respeito de tudo o que acontece no mundo, de como os filhos estão atuando dentro e fora do lar para se conduzirem adequadamente e não se sentirem traumatizados pelas mudanças inevitáveis ou rejeitados pelos filhos.

 


Segundo, aceitar que, para conseguir passar por essa transição com excelência absoluta, o adolescente precisa possuir uma autoconfiança diferente da adquirida através da auto-estimulação durante a infância e só conseguida no ambiente familiar. É diferente porque, apesar de ser adquirida no lar, deverá ser usada como base para sua auto-afirmação nos ambientes onde ainda não teve oportunidade de conseguir uma autoconfiança individualizada. A origem desta autoconfiança está no sentir que é “melhor, mais potente” que seus pais depois de sair vencedor nas disputas com eles, obrigatórias nesta fase de indefinição, pelos motivos mais variados, desde os mais simples até os extremamente importantes. Os meninos têm que “vencer” os pais e as meninas, as mães ou seus respectivos representantes no momento. A disputa deve girar em torno dos valores mais marcantes das personalidades dos pais.

 


As meninas se atêm à beleza física como primeiro parâmetro, precisa sentir-se mais lindas que suas mães. Os meninos, e posteriormente as meninas também, se confrontam com ambos os pais por valores intelectuais, hobbies, esportes, profissões e outros através de desafios, gesticulações, representações, diálogos e discussões. Muito importante, os pais têm a obrigação de aceitar que é fundamental os filhos saírem dos confrontos com a sensação de vitória plena desde que o motivo da demanda se situe dentro de limites aceitáveis. Eles devem, em certas ocasiões, ceder, e até usar de argumentos sabendo previamente serem errôneos para que os filhos sintam uma vitória “real”. As mães devem valorizar cada detalhe para as filhas se sentirem mais bonitas, vitoriosas e confiantes em suas próprias potencialidade e capacitações.


Nunca, de maneira alguma, pais e mães devem se comportar como modelos para serem seguidos pelos adolescentes, principalmente se forem pessoas eminentes e de projeção, porque essa atitude torna impossível a superação. Nenhum adolescente consegue superar figuras mais experientes e, menos ainda, muito importantes. Se insistirem para que os filhos sigam seus exemplos, colocam-se num patamar extremamente elevado e inatingível para serem superados e como a superação é indispensável nesta fase para a autoconfiança, ela irá acontecer a qualquer custo. Nestes casos, resta aos adolescentes, contando com os “instrumentos mentais” elementares que possuem, optarem por os “destruir”, o que pode ocorrer apenas no plano anímico, inconsciente ou fantasia em relação à sua imagem, distanciando-se, evitando contatos e renegando seus valores, ou eliminando-os de verdade, no plano físico. Esta seria, segundo alguns especialistas, a causa dos crimes cometidos por adolescentes contra pais, avós e outros cuidadores.

 


É importante os pais se convencerem que a infância dos filhos é a “gestação” da adolescência e, à semelhança dos cuidados tomados durante a gestação do bebê, esta primeira fase da vida dos filhos merece cuidados equivalentes, ou ainda mais. Além disso, os cuidados dos pais durante a transição da saída dos adolescentes para o mundo equivalem aos do obstetra durante o parto em si. Durante toda infância assim como no início da adolescência, todos os cuidados e iniciativas devem ser deles mesmos. Os pais são os verdadeiros “obstetras” dos filhos tanto durante a “gestação” da adolescência, a infância, como durante o “trabalho de parto” na fase transicional de superação paterna e materna.



Sobre o autor:
Dr Henrique Klajner é Formado pela Faculdade de Medicina da USP em 1965, residência médica completa com especialização em Pediatria no atual Instituto de Pediatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Possui Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Tem três livros publicados "A Auto-estimulação Precoce do Bebê" (Editora Nobel – São Paulo - 1998), "A Auto-estimulação das Crianças" (Editora Nobel – São Paulo - 2002) e "A Auto-estimulação e Adolescentes" (Editora Nobel – São Paulo – 2005). É professor convidado da Faculdade de Odontologia da USP.

 

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2006-06-20 00:00:00

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