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A criança obesa, estigmas sociais e baixa auto estima.

A obesidade tem sido tema de diversas investigações científicas nos últimos anos, já que o número de pessoas obesas aumentou consideravelmente em toda a população mundial, não só entre os adultos, mas na população infantil chegando a constituir um problema de saúde pública. Este problema está presente nos países desenvolvidos como também nos países em desenvolvimento, onde a obesidade coexiste com os casos de desnutrição.

O aumento do número de obesos se explica principalmente por fatores comportamentais, e por intensas modificações no estilo de vida e nos padrões nutricionais da população. Observa-se atualmente que os hábitos alimentares estão voltados para a ingestão de alimentos industrializados e mais calóricos. Aliado a este fator, encontra-se a diminuição do gasto energético, ligada à falta de atividade física, justificada pela ênfase no trabalho intelectual e nos avanços tecnológicos que facilitaram a vida do ser humano como carros, elevadores, escadas rolantes, aparelhos eletrodomésticos, etc., e lhe ofereceram outras opções de lazer, como TV, videogames, computador.

Essas mudanças comportamentais juntamente com a predisposição genética compreendem a principal etiologia dos quadros de obesidade atualmente. A população infantil está mais suscetível a essa patologia crônica, pois desde o nascimento está inserida nesses padrões culturais, de alta ingestão alimentar e pouco gasto energético.

Vale ressaltar que um quadro de obesidade na infância tende a se estender para a adolescência e idade adulta, causando um maior índice de morbidade em fases posteriores da vida do indivíduo. Dessa forma, entende-se que os gastos do governo para tratar as doenças associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares, são muito maiores do que seria com a prevenção ou tratamento deste quadro logo na infância.

Atualmente vive-se uma cultura de culto ao corpo, em que o indivíduo para ser aceito socialmente deve ser magro, cumprindo com padrões estéticos impostos pela mídia. Dessa forma, o paciente obeso experimenta conflitos emocionais muito importantes, o que explica as comorbidades psiquiátricas, entre elas a depressão, a ansiedade ou outros transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia.

A criança obesa também passa pelo sofrimento dos estigmas sociais, até mesmo dentro da própria família, através de piadas, apelidos ou cobranças dos pais (como comparações com um irmão ou amigos). Já que é a partir do ambiente onde está inserido que o indivíduo vai construindo, desde a infância, suas características de personalidade e padrões comportamentais, a criança obesa apresenta maior suscetibilidade para desenvolver uma baixa auto-estima, que pode prejudicar seu desempenho social e escolar.

A maneira pela qual a criança obesa lidará com os apelidos e os estigmas sociais, dependerá muito do quanto sua auto-estima for reforçada no ambiente familiar. Em muitos momentos, a criança pode ser preterida pelos colegas, seja por sua dificuldade física na falta de agilidade nas brincadeiras, ou simplesmente pelo fato de ser obesa. Partindo desse ponto, a criança pode apresentar comportamentos compensatórios para se integrar no grupo de colegas, como assumir a culpa por coisas que não fez, ser sempre passiva ou “boazinha”, fazer as tarefas escolares para os outros, ou servir de bode expiatório. Há também as crianças que, mesmo tendo essas atitudes compensatórias não conseguem ser aceitas no grupo e acabam ficando marginalizadas na sala de aula, não têm amigos e quando os têm possuem alguma característica que também os exclui do grupo. Esse contexto de discriminação pode desencadear na criança obesa o desinteresse pela escola, queda no rendimento escolar, queixas físicas como dores de barriga, de cabeça ou náuseas, e queixas emocionais entre elas a irritabilidade, apatia, agitação motora, etc.

Um outro fator importante é compreender a percepção materna sobre o estado nutritivo e de saúde dos filhos obesos. Um estudo com este objetivo mostrou que, embora 98,4% das mães considerem a obesidade como uma condição patológica, as mesmas apresentam uma visão distorcida do estado nutricional de seus filhos obesos, já que 37,5% relatou pouca exceção de peso e 26,6% considerou que os filhos apresentam peso normal. Estes resultados justificam uma parte dos fracassos no tratamento da obesidade infantil. A mãe possui um papel fundamental na família brasileira uma vez que a decisão sobre a alimentação e o seu preparo cabe a ela, determinando assim os hábitos alimentares da família. Dessa forma, a contribuição da mãe no tratamento da criança obesa é de total relevância e deve ser estimulada pela equipe profissional que assiste o paciente.

Uma vez que a principal estratégia de controle da obesidade seja a prevenção e o diagnóstico precoce, o tratamento – que deverá ser multiprofissional para atingir os resultados esperados – apresentará resultados mais eficazes e efetivos a longo prazo, quanto menos idade tiver a criança. 1, A dificuldade em tratar a obesidade em faixas etárias maiores está no fato de que com o passar do tempo, os hábitos alimentares já se encontram incorporados e as alterações metabólicas instaladas1.

Veja como fazer o Índice de Massa Corporal (IMC)

Existem diversos tipos de índices para mensurar o nível da obesidade. O índice mais amplamente utilizado e aceito pelos profissionais de saúde é o Índice de Massa Corporal (IMC ou Índice de Quetelet), calculado com a seguinte fórmula 2 :

IMC = Peso (kg)/Altura (m)2

Os valores da curva de normalidade para o IMC variam conforme a idade. No geral, em adultos pode-se considerar normal um IMC =<19, sobrepeso IMC >25 e obesidade IMC> 30. Os valores de IMC para sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes são os seguintes 2:


Idade (anos)
Meninas
Meninos
 
Sobrepeso
Obesidade
Sobrepeso
Obesidade
6
16,6
18,0
16,2
17,5
7
17,3
19,2
17,2
18,9
8
18,1
20,3
18,2
20,4
9
18,8
21,5
19,2
21,8
10
19,6
22,6
20,2
23,2
11
20,3
23,7
21,2
24,6
12
21,1
24,9
22,2
25,9
13
21,9
25,9
23,1
27,1
14
22,8
26,9
23,9
27,9
15
23,6
27,7
24,5
28,5
16
24,4
28,5
24,7
29,1
17
25,3
29,3
25,2
29,7
18
25,9
30,0
25,6
30,2


 

Referências Bibliográficas

Escrivão M.A.M.S., Oliveira F.L.C., Taddei, J.A.A.C., Lopez F.A. Obesidade exógena na infância e na adolescência. J Pediatr (Rio de Janeiro); 76 (supl 3): S305-S310, dez. 2000.

Francischi R.P.P., Pereira L.O., Freitas C.S., Klopfer M., Santos R.C., Vieira P., Lancha Júnior A.H. Obesidade: atualização sobre sua etiologia, morbidade e tratamento. Rev Nutr; 13 (1): 17-28, jan/abr 2000.

Moretti K., Beyruti M., Esperança L.M.B., Monegaglia A.P., Oliva A.B.G., Brandão F.A.B., Cozzolino F.F., Halpern Z.S.C., Halpern A. Prevalência de risco de sobrepeso e sobrepeso em escolares de 10 a 13 anos da cidade de São Paulo. Rev bras nutr clin; 15 (1): 261-266, jan/mar 2000.

Díaz M. Percepción materna del estado nutritivo del estado de sus hijos obesos. Rev Chil Pediatr; 71 (4): 316-320, jul. 2000.

Torriente G.M.Z., Molina D.C., Díaz Y., Fernándes A.T., Argüelles X.H. Obesidad en la infancia: diagnóstico y tratamiento. Rev Cubana Pediatr; 74 (3): 233-239, jul/set 2002.

Este texto foi elaborado pela Plenamente em maio de 2005.

2005-05-13 10:56:34

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