Até há poucos anos, tinha-se como certo que as células nervosas, os neurônios, não se regeneravam, não podiam ser substituídas e, com elas, também o cérebro e todo sistema nervoso. Hoje temos comprovações científicas (1,2) de que isso não é verdade, alguns tipos de células nervosas se refazem, o cérebro pode sofrer mudanças com tudo o que foi nele gravado bastando que as pessoas queiram e se disponham para isso. Para as modificações neuronais acontecerem, é preciso “passar as informações das novidades” ao cérebro e isto pode ser feito, por exemplo, mudando a dinâmica ambiental dirigindo-a especialmente para os novos comportamentos desejados. Pesquisadores como Owen Flanagan, James B. Duke, Matthieu Ricard, Paul Ekman, B. Alan Wallace, David J. Davidson, Dalai Lama, Mark Greenberg afirmam e comprovam, através de trabalhos científicos ultra-modernos, que isso realmente acontece. Em suma, mudanças ambientais modificam o conteúdo dos neurônios e o comportamento relacionado a este conteúdo.
Estas novas descobertas comprovam um ditado muito conhecido: “se Deus fecha uma porta, automaticamente Ele abre uma janela” e isso significa que Ele sempre nos dá oportunidades para podermos realizar o que desejamos, precisamos e nos compete fazer. Muitas vezes, e infelizmente, durante o desenvolvimento dos filhos, pais se descuidam em aproveitar as oportunidades que vão surgindo, no sentido de fazer o melhor por eles por várias razões. A mais importante é o rápido desenvolvimento da civilização em matéria de conquistas intelectuais, científicas, sociais, econômicas e materiais sendo a aquisição veloz e crescente destas últimas, em detrimento das primeiras, que faz com que a maioria das pessoas, nelas deposite a máxima confiança para a aquisição dos sucessos por toda vida, tendo a enganosa certeza de que daí o sucesso fatalmente virá. Outra razão é o enorme desconforto trazido pelas preocupações com o futuro a fazer com que pais e responsáveis se abstenham de encará-las, mesmo sabendo que problemas sérios certamente advirão em conseqüência da defasagem entre os conhecimentos permanentemente atualizados que devem ter para tomarem condutas modernas e que permitam os filhos chegarem à difícil fase da adolescência aptos a enfrentá-la sem se tornarem os famosos “aborrecentes”.
Mas, mesmo que isso tenha acontecido, não há motivos de desespero para pais de adolescentes já problemáticos. Se, até então, eles não tiverem sido devidamente orientados em épocas oportunas, se foram corretamente aconselhados, mas se recusaram a seguir os preceitos atualizados de cada momento, se preferiram, por conforto ou desconhecimento teimoso, seguir “os mais velhos” cuja “experiência era maior e melhor” do que os pediatras e outros profissionais “novinhos”, não há problemas insolúveis. Os estudos e pesquisas das modernas neurociências comprovam, com exames de alta tecnologia como a ressonância magnética funcional, o que desde Freud, passando por todas linhas psicológicas, filosóficas, religiosas e espirituais se preconiza: todas pessoas podem mudar seus comportamentos, melhorar suas aquisições, transpor distúrbios comportamentais e modificar relações familiares e sociais.
Os problemas comportamentais da adolescência, que chamamos de fantasmas da adolescência, podem, ou não, ter suas origens em distúrbios de comportamento ainda na infância. Comportamentos discordantes (crianças não cumpridoras ou desobedientes), distúrbio de desafio e oposição (ODD), distúrbio de conduta (CD), distúrbio do déficit de atenção e da hiperatividade (ADHD), distúrbio do desenvolvimento invasivo podem ser prenúncio de outros mais graves na adolescência como distúrbio de humor bipolar de início juvenil, distúrbio unipolar, também chamado de depressão (podem ser decorrentes de problemas educacionais isolados ou ambientais globais, associados ou não a fatores genéticos), fobia social, distúrbio predominantemente depressivo, distimias, distúrbio obsessivo compulsivo, violência, abuso e dependência de drogas, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmitidas.
Se, por qualquer motivo, medidas preventivas dos desvios comportamentais da infância, como a nossa auto estimulação precoce e continuada, não foram tomadas e as crianças chegaram à adolescência com problemas, basta pais e filhos quererem mudar para que as preocupações desapareçam e perturbações melhorem. Elas podem ser feitas através de transformações ambientais orientadas e, se necessário, com auxílio de psicólogos, psiquiatras, fonoaudiólogos, terapeutas variados, pediatras e outros.
A auto estimulação precoce e continuada é o nome que demos ao método de cuidar das crianças através do qual o ambiente em que vivem permite, desde que nascem e por toda vida, adquirirem competências motoras, sensitivas, intelectuais, familiares e sociais compatíveis através de conquistas pessoais, sem carências ou super ofertas, com desenvolvimento pleno de suas potencialidades geneticamente determinadas apenas pela oferta de oportunidades, e com auxílio somente para satisfazer necessidades básicas para tal. Ele permite às crianças que conquistem a felicidade plena pela auto estima crescente que as conquistas lhes conferem levando-as, por toda vida, a serem auto suficientes e terem, segundo Winnicott, seu self desenvolvido ao máximo.
Sempre insistimos que a maior conquista em matéria de saúde comportamental dos filhos é a prevenção através da adoção de condutas adequadas desde o nascimento mas, se estas não aconteceram, correções são possíveis em qualquer fase de desenvolvimento em que eles se encontrem, infância, adolescência ou mesmo na adultícia. A ciência está para nos ajudar e, hoje mais do que nunca, temos certeza que crianças, jovens ou adultos podem melhorar seus comportamentos através de orientações adequadas. Vale à pena investir para confirmar os estudos dos nossos pesquisadores.
Henrique Klajner – Pediatria e Puericultura, formado pela Faculdade de Medicina da USP com residência e especialização no atual Instituto de Pediatria do Hospital das Clínicas da USP – estudioso da prevenção comportamental desde o início da carreira, com orientação baseada no que chama de auto estimulação precoce e continuada. Tem dois livros lançados, “A Auto Estimulação Precoce do Bebê”, com orientação desde o nascimento do bebê até os 4 meses de idade e “A Auto Estimulação das Crianças” com orientação dos 4 meses aos 12 anos de idade. Está previsto para o atual semestre o lançamento do livro que discorre sobre a auto estimulação e a adolescência. Atualmente dá palestras em várias escolas, círculos sociais de pais e na Odonto Pediatria da USP.
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2004-04-11 00:00:00