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Privação de sono pode estar prejudicando a saúde dos adolescentes

Poucas horas de sono, um problema frequente entre adolescentes, parece colocá-los em risco de dificuldades cognitivas e emocionais, baixo rendimento escolar, acidentes e psicopatologias.

Em qualquer dia de aula adolescentes de todos os lugares levantam-se da cama e se preparam para o seu dia. Para a maioria o despertador soa às 6:30hs, ou seja, sete horas após terem ido para a cama. Muitos estudantes pegam o transporte escolar antes das 7:00 hs e estão em aula às 7:30 hs.

Nos adultos tal quantidade de horas de sono pode afetar o funcionamento do dia a dia de diferentes maneiras. Para os adolescentes, que são biologicamente levados a dormir mais tempo e mais tarde do que os adultos, os efeitos de pouco descanso parecem ser mais preocupantes.

Alguns especialistas em sono discutem que alguns horários de entrada pela manhã nas escolas são abusivos. “Qual o benefício de iniciar a programação escolar tão cedo na manhã ?” pergunta James B. Maas, psicólogo da Cornell University. “Você pode dar as leituras mais estimulantes e interessantes para crianças privadas de sono durante a manhã ou mesmo depois do almoço, quando elas estão no seu auge da sonolência, que um alto direcionamento para o sono substitui qualquer chance de alerta, cognição, memória ou entendimento”.

Em 1998, Amy R. Wolfson, psicólogo, PhD da College of the Holy Cross e Mary A. Carskadon, PhD da Brown University Medical School, examinaram mais de 3000 estudantes e encontraram uma associação entre privação de sono e baixo rendimento escolar. Os estudantes que haviam tirado notas mais baixas dormiam por volta de 25 minutos menos e iam para a cama cerca de 40 minutos mais tarde do que estudantes que tinham notas mais altas.

Pesquisadores da Universidade de Minnesota relataram os resultados de um estudo com mais de 7000 estudantes, que haviam mudado em 1997 o horário de início das aulas das 7:15 hs para às 8:40 hs. Comparados com estudantes que mantinham o primeiro horário para iniciar as aulas, aqueles que começavam mais tarde conseguiam ter mais horas de sono durante as noites, ficavam menos sonolentos durante o dia, experenciavam menos sentimentos depressivos e obtinham notas ligeiramente superiores.

Essas pesquisas, combinadas com estudos que mostram claramente a privação de sono entre adolescentes, têm impulsionado esforços para conscientizar crianças e adultos sobre a importância de uma boa noite de sono e persuadir escolas a rever os horários de início das aulas.

Durante décadas experts acreditavam que as pessoas necessitavam menos sono no decorrer da infância do que na fase adulta.

É fácil de ver porque essa crença persiste: adolescentes dormem menos do que o faziam quando crianças, diminuindo de uma média de 10 horas por noite durante a infância, para menos de 7 horas e meia aos 16 anos. De acordo com o estudo de Wolson e Carskadon (1998), 26% dos estudantes de colegial habitualmente dormem menos de 6 horas e meia em dias de semana e apenas 15% dormem 8 horas e meia ou mais. O mesmo estudo indicou que para compensar o sono perdido, a maioria dos adolescentes cochila duas horas a mais nas manhãs de finais de semana, um hábito que pode levar a uma má qualidade de sono.

Ma,s para a surpresa dos pesquisadores, nas duas décadas passadas os estudos mostraram que adolescentes requerem consideravelmente mais sono para desempenharem-se bem do que crianças pequenas ou adultos. Carskadon e seus colegas mostraram que, por volta do começo da puberdade até os 20 anos de idade, os adolescentes precisam por volta de 9,2 horas de sono a cada noite, comparadas com 7,5 a 8 horas que os adultos precisam.

Além de necessitar de mais tempo de sono, os adolescentes experenciam uma mudança de fase durante a puberdade, adormecendo mais tarde à noite do que crianças mais novas. Pesquisadores por muito tempo assumiam que essa mudança era impulsionada por fatores psicossociais, tais como: atividades sociais, pressão acadêmica, trabalhos noturnos, televisão e uso de Internet. Nos últimos anos, entretanto, experts em sono aprenderam que fatores biológicos também desempenham um papel fundamental nas mudanças do padrão de sono nos adolescentes.

As mudanças no relógio biológico dos adolescentes, combinadas com pressões externas, tais como precisar levantar cedo de manhã para ir à escola, podem produzir um forte padrão de sonolência pela manhã. Em um estudo de laboratório publicado no Journal Sleep (vol.21, nº8), em 1998, com 40 estudantes de colegial, Wolfson e colegas examinaram o efeito de mudar o início do horário da escola das 8:25 hs para 7:20 hs. Seus resultados mostraram que quase metade dos estudantes que começava a escola às 7:20 hs tinham sinais de “patologias do sono” com uma média diminuída de sono REM.

Particularmente importante tem sido a questão de por quê o relógio biológico dos adolescentes muda para um horário mais tardio por volta do início da puberdade. Pesquisadores acreditam que seja porque a sensibilidade do cérebro para luz muda durante a adolescência. Na reunião anual da Associated Professional Sleep Societies, foi apresentada uma pesquisa mostrando que, durante o entardecer, a secreção de melatonina pode ser atrasada pela exposição até mesmo de uma luz fraca para os participantes que estavam no meio ou no final da puberdade, mas não para aqueles em pré-puberdade.

Tão importante quanto a pergunta de por quê os padrões de sono mudam durante a adolescência é a questão de como a privação do sono influencia as emoções e comportamentos dos adolescentes. Muitos pesquisadores notaram que adolescentes com privação do sono parecem ser vulneráveis a psicopatologias, como Depressão e Déficit de Atenção e Hiperatividade e a ter dificuldades de controlar suas emoções e impulsos.

Embora seja difícil dissociar causa e efeito, parece que a privação do sono e problemas em controlar impulsos e emoções se exacerbam mutuamente, levando a uma espiral negativa de cansaço e falta de sono, labilidade de emoções, tomada de decisões erradas e comportamento de risco, diz Ronald E. Dahl, MD, professor de Psiquiatria e Pediatria na Universidade de Pittsburgh.

Apesar da evidência de que sono insuficiente afeta o raciocínio, a estabilidade emocional e o comportamento de adolescentes, o efeito a longo prazo da privação de sono no aprendizado, na emoção, nas relações sociais e na saúde permanecem incertos.


Este texto foi traduzido e adaptado pela Plenamente do site: www.apa.org

2003-08-11 00:00:00

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