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A poltrona vazia: como lidar com a morte de seu terapeuta. Claudia Petlik Fischer, Maria Alice Fontes

A morte de um terapeuta pode ser difícil de lidar, especialmente se você estabeleceu um vínculo estreito, se a morte foi súbita e não houve a preparação para um final compartilhado.

Quando o processo de terapia funciona bem, o psicólogo pode se tornar uma pessoa importante em nossa vida, alguém que sabe mais sobre nós do que a maioria das outras pessoas.

O fato de você estar lendo este artigo sugere que você pode ter sido afetado pela morte de uma fonte confiável de suporte e apoio, ou já pensou que isso poderia acontecer.

O paciente enlutado pode ficar com sentimentos confusos, incluindo raiva, decepção e uma sensação de abandono. O paciente pode se sentir muito sozinho em sua tristeza e não compreendido por outras pessoas, ouvindo coisas como: "Mas ele não é da nossa família...”, “Ele prestou um serviço”. “Era o trabalho dele. Ele foi pago por isso.” ou “você encontrará outro...”.

Luto não reconhecido

Vivemos em uma sociedade onde nossas dores muitas vezes são silenciadas e este é um luto que merece um espaço de reconhecimento - o luto dos pacientes que ficaram órfãos de seus cuidadores.

O termo “luto não reconhecido” é usado quando a pessoa vivencia uma perda que não pode ser admitida abertamente, o luto não pode ser expresso ou socialmente suportado (Doka, 1989; Corr, 2002). Sem suporte social, tais pessoas são isoladas diante de um silêncio frente à sua dor.

Poucos terapeutas têm planos para lidar com a sua falta. Como resultado, muitos pacientes sofrem consequências inesperadas pela morte do terapeuta.

No funeral os pacientes podem acabar se sentindo “intrusos” e angustiados porque não são parentes ou amigos. Além disso, alguns pacientes podem sentir uma mistura de sentimentos, por se sentirem tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes da família do terapeuta.

Pode ser um desafio até mesmo notificar os pacientes quando um terapeuta falece. Os pacientes nem sempre dizem às famílias que estão em terapia. E alguns terapeutas não possuem uma lista de clientes a serem avisados.

Por ser um tabu como muitos outros lutos não reconhecidos socialmente, não é discutido nas faculdades, nem entre terapeutas. Há necessidade de refletir mais sobre isso e discutir estratégias para tratar o assunto de forma a ajudar o paciente que tiver que enfrentar esta morte.

No Brasil o CRP (Conselho Regional de Psicologia) diz não haver normatização específica a respeito da morte do psicólogo. Segundo Resolução CFP 03/07, se um familiar ou colega psicóloga/o da/o profissional que faleceu entra em contato com o CRP/SP, eles solicitam que verifiquem um psicóloga/o que poderá ficar responsável pelos arquivos confidenciais desta/e.

Já em alguns estados dos EUA, os herdeiros de terapeutas falecidos devem colocar anúncios nos jornais dizendo que o terapeuta morreu e onde seus arquivos podem ser encontrados. Na Califórnia, uma terapeuta conseguiu que seus arquivos pudessem ser destruídos após a sua morte, protegendo a privacidade dos pacientes. Alguns terapeutas chegam a escrever sobre os pacientes em seus testamentos, inclusive deixando objetos pessoais para que tenham uma lembrança deles.

Como seguir em frente?

“Como vou continuar? Ele era a única pessoa que sabia tudo sobre mim.”
Essa é uma pergunta comum depois que o terapeuta morre. Após a morte do terapeuta é compreensível a resistência em iniciar a terapia com outra pessoa. Frequentemente, a nova terapia pode iniciar em lidar com a morte do antigo terapeuta.

Algumas sugestões para o enfrentamento do luto pela morte do terapeuta:

• Dependendo das circunstâncias de sua própria experiência, seu terapeuta pode ter instruído você a procurar ajuda de outras;
• Pense na possibilidade de fazer um ato de lembrança ou homenagem, os rituais ajudam as pessoas a lidar com processo de morte;
• Você pode querer visitar novamente o local ou o bairro onde tinha as sessões. Isso pode ser doloroso, mas pode ajudar a elaborar o luto;
• Se você teve sessões presenciais ou online pode pensar em reservar um tempo no mesmo dia e no mesmo horário quando teria sua sessão. Faça uma “sessão” sozinho, em um lugar onde você se sinta confortável, seguro e privado. Lá, tenha uma conversa imaginária com o terapeuta; fale sobre como você se sente. Veja como você se sente. Você pode precisar desta "sessão" algumas vezes antes de se despedir;
• Você pode escrever uma carta. Colocar sentimentos em palavras pode ajudar a processar emoções difíceis e organizá-las diante de uma situação desorganizadora;
• Você pode ter vontade de escolher um novo terapeuta que conheça o anterior e/ou esperar que este novo terapeuta seja diferente na abordagem;
• Não há problema em perguntar sobre a saúde do novo terapeuta.

Se isso já aconteceu com você ou se tem receio que ocorra, vale a pena conversar sobre o assunto de modo a pensar em algumas estratégias em caso de morte do terapeuta.

 

Referências:

https://www.wsj.com/articles/SB109165345365483094

https://karinsieger.com/death-of-a-therapist-coach-mentor-how-to-cope/

O Resgate da Empatia, Gabriela Casellato

 

2019-12-15 00:00:00

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