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Você costuma procrastinar? Quais os motivos e as dicas para evitar? Claudia Petlik Fischer, Maria Alice Fontes

O que é procrastinação?

Procrastinar vem do latim “procrastinatus, procrastinare”, que significa: à frente de amanhã. Significa adiar tarefas ou situações para depois, com resultante desconforto psicológico e emoções negativas, como culpa e insatisfação.

Até certo ponto é um comportamento considerado normal. Todos procrastinamos, alguns mais, outros menos. Entretanto, em alguns casos, quando este comportamento começa a atrapalhar a qualidade de vida do indivíduo, pode ser motivo de ansiedade, estresse e sinais de depressão.

Utilizamos o verbo procrastinar quando negligenciamos atividades, ou seja quando uma atividade não recebe a devida atenção que deveria, sendo deixada de lado, por exemplo, por outras tarefas menos importantes.

Por que algumas pessoas procrastinam mais que outras?

Daniel Gustavson e colegas da Universidade de Colorado Boulder mostraram que a procrastinação é marcada por traços genéticos, sendo hereditária. Procrastinadores parecem ser mais propensos a agir de forma precipitada e sem pensar, pois ambos estão relacionados à nossa capacidade de perseguir objetivos e sucesso. Esta constatação os fez sugerir que, geneticamente, a procrastinação é um subproduto da evolução da impulsividade.

Do ponto de vista evolutivo, a impulsividade em nossos ancestrais era justificada devido a necessidade de buscar recompensas imediatas, frente ao futuro invariavelmente incerto. Por outro lado, a procrastinação pode ter surgido mais recentemente na história humana. No mundo moderno, temos diversas metas e objetivos para nos manter competitivos, quando estamos no modo impulsivo e distraído, as metas de longo prazo geralmente se perdem e o comportamento de procrastinação aparece.

Quais são as consequências de procrastinar?

O ato de procrastinar acaba resultando em ansiedade e estresse, assim como outros sentimentos negativos que interferem na habilidade de se concentrar em um objetivo.

Geralmente adiamos exatamente o que consideramos “chato” ou o que é custoso física e emocionalmente. As tarefas mais difíceis ou que envolvem consequências negativas são aquelas que não gostamos de fazer. As atividades prazerosas geralmente fazemos sem adiar. O problema é que os procrastinadores dividem o tempo de forma desequilibrada, dedicam a maior parte do tempo ao que dá prazer e adiam todo o trabalho custoso.

O que favorece a procrastinação?

O ambiente e as condições também podem favorecer a procrastinação. Por exemplo, não ter data limite, ter falta de clareza dos benefícios, ter uma atividade complexa ou quando não há cobrança.

Quando o trabalho a ser realizado leva muito tempo até ter resultado pode haver esquiva pois não há gratificação imediata. Além disso, geralmente implica em deixar de fazer coisas que gostamos. Assim, pode ser até econômico e prazeroso adiar a tarefa, mesmo que saia com qualidade inferior. No entanto, se acaba ficando insatisfeito e frustrado porque o resultado não era como se esperava.

Quando a tarefa a ser feita envolve habilidades que não temos o domínio, também favorece a procrastinar, já que aprender pode levar tempo, exigir esforço e a aprendizagem certamente vai competir com outras atividades prazerosas.

Quais as áreas cerebrais envolvidas na procrastinação?

Quando procrastinamos o nosso sistema límbico, zona responsável pelo prazer, assim como o cortex pré-frontal, responsável pelo planejamento, entram em uma “disputa”. O sistema límbico, mais rápido e imediato, busca prazer a curto prazo, já a córtex pré frontal tenta nos lembrar os objetivos a longo prazo. O desafio é que o córtex pré-frontal requer estímulo consciente da razão para completar as tarefas. Se nós não assumirmos uma tarefa conscientemente, o sistema límbico e sua busca por prazer imediato, acaba prevalecendo.

É possível deixar de procrastinar?

Segundo Basco, 2010, o comportamento procrastinatório é considerado relativamente difícil de ser modificado porque fornece um conforto temporário em um mundo cheio de demandas, incertezas e responsabilidades, sendo utilizado como estratégia de enfrentamento diante de tarefas aversivas.

Mas é possível fazer com que o ato de procrastinar deixe de ser um problema. Aprender mais sobre os fundamentos da procrastinação pode ajudar a desenvolver intervenções para evitá-la e ajudar a superar a tendência para se distrair.

Quais são as recomendações para deixar de procrastinar?

Algumas dicas podem ajudar a diminuir a frequência da procrastinação, focando principalmente na otimização do tempo entre o trabalho, entretenimento e descanso.

Veja algumas sugestões:

1. Tenha consciência das atividades que considera prazerosas e o que tem de ser feito de forma mandatória;
2. Faça um plano de ação para o que precisa ser feito e tente seguir, mantendo intervalos onde faz algo que gosta;
3. Utilize aplicativos e calendários que permitem organização de eventos, com o envio de alertas, até sobre o tempo de pausa;
4. Busque combater algumas crenças distorcidas sobre as tarefas que são desagradáveis, pois elas podem lhe dar um bom senso de auto eficácia quando realizadas;
5. Aumente seu autocontrole. Tente persistir e adiar os prazeres imediatos, a satisfação ao olhar o que já foi feito é um grande estímulo para seguir em frente;
6. Busque pequenos incentivos para ter mais ganhos de curto prazo. Por exemplo, dividir as tarefas e estabelecer prazos para cada uma das partes;
7. Tente seguir o plano e eliminar distrações;
8. Combine com você pequenos “prêmios” pela finalização de algo difícil.


Bibliografia

D. E. Gustavson, A. Miyake, J. K. Hewitt, N. P. Friedman. Genetic Relations Among Procrastination, Impulsivity, and Goal-Management Ability: Implications for the Evolutionary Origin of Procrastination. Psychological Science, 2014; DOI: 10.1177/0956797614526260 http://www.sciencedaily.com/releases/2014/04/140407101718.htm

Paula Grandi. “Depois eu faço!” – Entendendo a Procrastinação. Site Comporte-se
http://comportese.com/2014/03/depois-eu-faco-entendendo-a-procrastinacao/

Natalie Brito. “Enrolar” nas tarefas de casa: análises sobre a procrastinação infantil. Site Comporte-se
http://comportese.com/2012/08/enrolar-nas-tarefas-de-casa-analises-sobre-a-procrastinacao-infantil/

BRITO, Fernanda de Souza e BAKOS, Daniela Di Giorgio Schneider. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa. Rev Bras Ter Gogn. [online]. 2013, vol.9, n.1, pp. 34-41. ISSN 1808-5687.
 

2016-01-28 00:00:00

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