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A socialização infantil e o desenvolvimento emocional saudável. Alessandra de Camargo Costa, Maria Alice Fontes

O que é a socialização?

Socialização é o processo através do qual um indivíduo se torna membro funcional de uma comunidade, assimilando hábitos e a cultura que lhe é própria. É um processo contínuo que se inicia pela "imitação" e continua por toda a vida por meio da comunicação verbal e não verbal.

Segundo Borsa (2007) um dos objetivos mais importantes do processo de socialização é que as crianças aprendam o que é considerado correto em seu meio e o que se julga incorreto; ou seja, que possam alcançar um nível elevado de conhecimento dos valores morais que regem sua sociedade e se comporte de acordo com eles. Este processo contínuo seria conseguido através da construção e interiorização dos valores.

Cérebro social: O que é isto?

O homem, diferente de outras espécies, possui a habilidade para perceber as necessidades e intenções dos outros da mesma espécie. Esta capacidade envolve o entendimento dos desejos, crenças e intenções de outras pessoas. Segundo Mercadante (2009), a compreensão das intenções do outro habilita o acesso a informações cruciais sobre o que o outro está fazendo ou pretende fazer, promovendo o desenvolvimento da interação social. Essa habilidade, também conhecia por teoria da mente parece estar relacionada com a evolução e sofisticação da percepção sensorial, raciocínio espacial, da função executiva, além do pensamento consciente e na linguagem. Do ponto de vista neuroanatômico, o cérebro social caracteriza-se pelo conjunto de estruturas responsáveis pelo processamento de informações de ordem social.

Importância dos primeiros vínculos

É na primeira relação com a figura materna ou com um cuidador substituto que o bebê vai  estabelecer o senso de confiança básica no ambiente que o cerca. O bebê que recebe afeto, amor e é atendido em suas necessidades primordiais com segurança vai desenvolver um sentimento de confiança no ambiente. A mãe que consegue identificar as necessidades e posteriormente os estados afetivos do bebê ajuda-o a ir reconhecendo as suas próprias sensações, impulsos e desejos. Ao longo do desenvolvimento, e sendo uma criança normal, ela provavelmente terá mais condições de compreender e ser empática em relação ao meio externo.

O que é empatia?

A empatia, segundo Hoffman (1981), é a resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa.  Na psicologia e nas neurociências contemporâneas a empatia seria uma espécie de “inteligência emocional" e pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva - relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva - relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.  A criança não nasce com esta habilidade, e por esta razão precisa de ajuda das figuras parentais e do ambiente que a cerca para ir desenvolvendo

Qual o papel dos limites e da autonomia da criança para o desenvolvimento social?

O estabelecimento de limites precisos é fundamental para o desenvolvimento social, pois  ajuda o indivíduo a perceber até onde pode ir e agir sem prejudicar e comprometer o espaço do outro, podendo assimilar melhor o que o ambiente espera dele.

Entretanto, a criança também necessita de uma boa dose de autonomia para explorar o ambiente e se desenvolver como pessoa que tem vontade e escolhas próprias, se sentindo aceita em todos os aspectos de sua personalidade. Os pais e cuidadores devem ter sensibilidade para oferecer espaço para que o filho possa exercitar sua autonomia e liberdade de expressão, mas ao mesmo tempo oferecer limites e contenção externa. O equilíbrio contenção e autonomia dará segurança e a norteará a criança até onde prosseguir com suas iniciativas.

Qual o papel da família e da escola na socialização de um indivíduo?

É na família onde exercitamos as primeiras trocas sociais e posteriormente na escola com os colegas e com figuras de autoridade, como por exemplo, o professor. A criança que entra na fase escolar com uma segurança básica diante de suas capacidades estará mais habilitada a se lançar em novos vínculos, novas trocas podendo assumir sua individualidade no grupo.

A escola é o local que propicia o início da identificação da criança com alguns colegas, percebendo as semelhanças e diferenças entre as pessoas. Exercitará sua capacidade de se expressar com os amigos e ao mesmo tempo respeitá-los em sua individualidade.

Dificuldades de ajustamento social podem aparecer desde muito cedo, uma criança que tem todas as suas vontades atendidas de imediato em casa terá dificuldade de tolerar frustrações, respeitar os desejos dos outros, não saberá esperar sua vez e provavelmente vivenciará momentos de sofrimento e inadequação.

Por outro lado, uma criança insegura poderá fazer tudo para agradar os colegas e ser aceita, aquelas que não tem limites não aceitarão regras dos outros e podem tentar ser sempre o líder da turma , mesmo que seja usando a força e não a empatia.

O jogo e a brincadeira ajudam no processo de socialização?

As crianças hoje em dia vivenciam uma rotina intensa e repleta de atividades, quase sem tem tempo para a brincadeira livre e espontanea. Dentro deste panorama, encontramos algumas mais estimuladas e inteligentes, mas frequentemente cansadas, pouco criativas, inseguras e mais vulneráveis emocionalmente.

O brincar e jogar são as maneiras que a criança expressa e constrói seu próprio modo de conduta. Desenvolve a imitação e aprendizagem da vida dos adultos até mesmo favorece a elaboração de conflitos emocionais. Segundo Grunspun (1985), de acordo com a maneira como a criança brinca podemos fazer uma estimativa de seu nível emocional, social e até intelectual.

Como se desenvolve o brincar e a interação social saudável?

Existe uma evolução natural na maneira da criança brincar. Antes dos 2 anos é a fase do jogo ou brinquedo solitário onde a criança explora mais os objetos de maneira solitária. Do segundo para o terceiro ano de vida a criança começa imitar outras na brincadeira, brinca ao lado de outras mas sem muita interação. Mais próximo do terceiro ano é que a criança aprende o dar e o receber, participa de jogos de fantasia e já existe uma organização maior dos níveis da brincadeira. Nesta fase começam a reconhecer liderança ou lutar por ela. Só a partir dos 4 anos que existe maior cooperação entre os colegas e muitas vezes meninos e meninas se agrupam separadamente de acordo com seus interesses. Neste momento também conseguem emprestar e compartilhar mais os brinquedos.

Estes estágios podem acontecer em ritmos diferentes de acordo com a criança e os estímulos que recebe, e ocorrem paralelamente ao seu desenvolvimento cognitivo e emocional, mas os pais precisam saber que na rotina de seu filho deve existir também o tempo para a  brincadeira não dirigida , para o exercício da fantasia e da imaginação.

Conclusão

Hoje vivemos em um mundo social bastante complexo, com milhares de pequenas regras implícitas que regulam nossas relações. O desenvolvimento saudável da socialização ao longo da vida propicia melhores habilidades empáticas, flexibilidade e maiores chances de sucesso pessoal, familiar e profissional.

Uma pessoa saudável emocionalmente é alguém bem ajustado socialmente, é alguém que consegue estabelecer vínculos e mantê-los, ou seja, a habilidade de fazer trocas afetivas e se relacionar adequadamente no contexto com outras pessoas.

 

Referências Bibliográficas

Borsa, J.C. O papel da escola no processo de socialização infantil. http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0351.pdf   . Rio Grande do Sul, 2007.

Grunspun, H. Distúrbios Neuróticos da Criança. São Paulo : Livraria Atheneu, 1985

Mercadante, M.T ; Rosário, M. C. Autismo e cérebro social. São Paulo: Segmento Farma, 2009.

Rappaport, C.R. et al. Psicologia do Desenvolvimento. A idade escolar e a adolescência. São Paulo : EPU, 1982. v.4

http://pt.wikipedia.org/wiki/Socializa%C3%A7%C3%A3o

 

2010-11-18 00:00:00

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