Imagine viver a vida como uma montanha-russa, repleta de altos e baixos, com grande instabilidade, alternando momentos de muita agitação e euforia com períodos intensos de apatia, desânimo e tristeza. Esses comportamentos e sentimentos oscilantes, podem ser sinais do Transtorno Bipolar, que acarreta grande sofrimento tanto para os pacientes como para seus familiares, sendo um desafio para os profissionais de saúde mental. O quadro têm sido visto nas últimas décadas também em crianças e adolescentes.
O que é o Transtorno Bipolar (TB)?
O TB, antigamente conhecida como Psicose Maníaco-Depressiva, é um distúrbio cerebral que se caracteriza pela presença alterações de humor ao longo de toda a vida, com episódios de euforia, também conhecido como mania, alternados com episódios de depressão. Tais episódios afetivos acarretam importante impacto negativo a qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares, gerando prejuízos nos relacionamentos interpessoais, nas atividades ocupacionais e sociais, podendo afetar até as finanças da família.
Se acordo um dia cheio de alegria e no outro estou triste, posso ter o Transtorno Bipolar?
No decorrer de nossas vidas, é comum nos sentirmos mais animados com uma situação positiva, como por exemplo uma promoção no emprego, e de repente, tristes em decorrência de uma perda, como a morte de um familiar, porém, essa mudança de humor nada tem a ver com o TB. Para esse diagnóstico, é necessário que a intensidade e frequência das alterações de humor causem sofrimento significativo e prejuízos em várias esferas da vida do indivíduo.
Quais são os sintomas de TB?
Os sintomas do TB incluem frequentes e intensas oscilações de humor. Na fase depressiva, observa-se humor deprimido, com predominância de pensamentos e sentimentos negativos, desesperança, baixa energia, diminuição da capacidade de sentir prazer e alegria, agitação ou lentificação psicomotora, alterações do apetite e do sono, e até mesmo ideação suicida. Em contraponto, a fase maníaca é marcada pela elevação do humor que dura desde dias até meses, além de outros sintomas, tais como sensação de energia aumentada, hiperatividade, fala excessiva, pensamentos rápidos, discurso de grandiosidade, necessidade diminuída de sono, irritabilidade, euforia, e o senso crítico deficiente, o que pode acarretar no aumento de comportamentos de risco, como por exemplo, a hipersexualidade, consumo abusivo de álcool e drogas, além de gastos excessivos.
Quais são os sintomas do TB em crianças e adolescentes?
Nas crianças e adolescentes, embora a alternância de humor não se mostre tão bem marcada, elas ocorrem junto com irritabilidade, tempestades comportamentais (ataques de raiva e agressividade), distração, impulsividade e comportamento desafiador. A hipersexualidade nos adolescentes pode também ser mais evidente. Em meninas também é comum o excesso de maquiagem e uso de roupas muito coloridas e extravagantes. O TB em crianças e adolescentes acarretam, além dos prejuízos sociais, dificuldades na aprendizagem escolar.
Quais são os riscos associados com o TB?
A mortalidade dos pacientes com TB é elevada, sendo o suicídio a causa de morte mais frequente, principalmente entre os mais jovens. Pesquisas estimam que 50% dos portadores apresentem pelo menos uma tentativa de suicídio durante a vida, e 15% efetivamente o cometem. A comorbidade com a dependência química - 41% de dependência de álcool e 12% de outras drogas – agrava o curso da doença, prejudica a adesão ao tratamento e aumenta em duas vezes o risco de suicídio.
Quais são as causas do TB?
A genética é a principal causa de TB; cerca de 50% dos pacientes apresentam pelo menos um familiar portador da doença. Estudos mostram que indivíduos com um dos pais com diagnóstico de TB são de quatro a seis vezes mais suscetíveis a desenvolver a doença. Nos últimos anos, têm sido desenvolvidos diversos estudos de neuroimagem com o intuito de investigar aspectos neuroanatômicos e neurofuncionais do TB. Embora nenhum estudo tenha sido conclusivo, a diminuição no córtex pré-frontal parece ser o achado mais consistente no estudo topográfico cerebral de pacientes bipolares. Também tem sido relatado um alargamento de ventrículos, e alterações no volume do hipocampo e da amígdala.
Como é feito o tratamento do TB?
O TB é uma doença crônica, porém tratável. O objetivo principal do tratamento é controlar as alterações bruscas de humor, reduzir a incapacitação e a mortalidade dos pacientes. O tratamento deve incluir os aspectos biológicos e psicossociais da doença. Para isso, é necessário que o médico psiquiatra prescreva uma classe de medicamentos chamada de estabilizadores de humor; outros medicamentos também podem ser prescritos dependendo da necessidade do paciente. A psicoterapia também é fundamental para ajudar o paciente a compreender o problema e desenvolver mecanismos mais adaptados de situações de estresse, para enfim, ampliar sua capacidade de autocontrole e melhorar seu funcionamento interpessoal e ocupacional. No caso de crianças e adolescentes, deve-se incluir um apoio psicopedagógico, devido os problemas de aprendizagem acarretados pelo TB.
Referências bibliográficas
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais – 4ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 845p.
2010-10-14 00:00:00