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Baladas, álcool e adolescência: o que você precisa saber sobre esta mistura. Maria Alice Fontes

De acordo com um interessante blog de jovens paulistanos, "a balada dá a esperteza que o jovem precisa para mergulhar neste mundo às avessas!"

Segundo os futuros jornalistas que escrevem no blog, o que seria dos jovens sem os beijos noturnos, sem os abraços quentes, sem as músicas estourando os tímpanos? "É na balada que descarregamos nossos cansaços, nossos desgostos, nossa falta de bom senso. Na madrugada fria nos aquecemos e na quente pegamos fogo. É o nosso momento mais jovem".

De uma forma bem clara, eles nos explicam que o mundo está em constante transformação, enquanto os jovens estão vivendo uma vida de pseudoadultos, ganhando responsabilidades cada vez mais cedo. Assim, segundo eles, a balada serve para descontrair e fazer os jovens, em muitos momentos, serem de fato irresponsáveis.

Esta definição de balada nos ajuda a entender o que está se passando no mundo de hoje.

Por quê os jovens estão precisando testar os limites do corpo e os limites dos pais de forma tão intensa? Por quê sentem necessidade de continuar a serem irresponsáveis? Nota-se que os adolescentes tem resistido frente ao mundo de consequências duradouras; eles parecem buscar a gratificação imediata, sem se preocupar com as consequências a longo prazo, querem continuar sendo irresponsáveis.

Como podemos compreender melhor esta situação?

Com o aumento das separações conjugais e das famílias reconstituídas, muitas mudanças tem ocorrido. Uns ficam superprotegidos, outros podem ser confrontados cedo demais com a liberdade, a qual ainda não estão preparados para assumir. Alguns pais tem dificuldade para colocar limites de forma clara e objetiva, sem atenderem a todos os desejos materiais dos filhos. Somado a todos esses fatores, não se pode esquecer que a própria adolescência é uma fase com características específicas que inclui uma enorme necessidade de fantasiar, somado as conhecidas contradições, flutuações de humor e estado de ânimo. Além disso, o adolescente tem uma grande tendência grupal e busca sua identidade através dos amigos que vestem a mesma roupa, falam a mesma língua e usam as mesmas drogas.

Quais são as fases de desenvolvimento da adolescência?

A adolescência pode ser dividida em três fases: (1) Pré-adolescência, dos 11 aos 14 anos; (2) Adolescência intermediária, dos 14 aos 17 anos; (3) Adolescência tardia, dos 17 aos 20 anos.

Em algumas culturas, o início da adolescência é marcado por ritos nos quais o jovem realiza testes de coragem e força. Entretanto, na nossa sociedade o limite entre meninice e adolescência não é muito nítido. Durante o desenvolvimento da adolescência, o indivíduo tem que passar por alguns lutos: perda do corpo infantil; perda do modelo de pais da infância; perda da identidade e do papel infantil. O final deste percurso ocorre quando o adolescente adquire todos os direitos e privilégios de um adulto, o que pode variar muito dependendo da sociedade em questão.

Quando pensamos nas características da adolescência, sem considerar esta fase complicada do desenvolvimento, podemos precipitadamente considerar que o jovem está desequilibrado emocionalmente.

Os pais devem compreender as rápidas mudanças que ocorrem e que as baladas de hoje não são iguais as de anos atrás. O nível de insegurança dos pais é muito grande, pois os jovens tem começado a abusar, cada vez mais cedo. O acesso ao álcool está muito facilitado aos menores. Os bares vendem álcool a qualquer adolescente e as festas de 15 anos já servem bebidas alcoólicas, pois se não, a festa pode ficar “sem graça”.

Qual é o tipo de problema associado ao beber pesado do adolescente?

Além do cérebro do adolescente estar em desenvolvimento até o final dos 20 anos, e vulnerável aos agentes tóxicos, os problemas com o álcool estão relacionados especialmente com o padrão de consumo dos jovens. Este padrão de beber muito, sem controle, em uma única noite é chamado de beber pesado episódico ou “Binge Drinking”. O jovem ainda não consegue controlar seus freios internos e regularmente bebe até cair, causando um série de problemas que incluem: intoxicação alcoólica, fraturas, violência, brigas, acidentes de trânsito, comportamento sexual de risco, gravidez indesejada, problemas psicossociais na família e dificuldades escolares. Todos estes comportamentos podem interferir negativamente no desenvolvimento já tão conturbado do adolescente.

Nas baladas eles entram, já “esquentados” e vão direto para o bar para “pegar o grau”. Dentro deste panorama, nossos jovens saem de casa buscando descarregar o cansaço, o desgosto para encontrar a mais pura irresponsabilidade. Esta é a mistura perfeita para grandes problemas, pois a busca do desafio, a falta de imites e a impulsividade coloca os adolescentes em grandes riscos.

Qual é o padrão de uso de álcool e drogas pelos jovens de hoje?

Os jovens consomem primariamente álcool nas baladas. O comportamento binge se caracteriza pelo consumo, na mesma ocasião, de cinco ou mais doses - valor correspondente a cinco latas de cerveja (ou copos de vinho ou doses de bebida destilada).

Um estudo recente realizado pela UNIFESP mostrou que dentre todas as drogas, o álcool é, de longe, a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 12,5 anos.

Além do álcool, qual é a droga que se encontra nas baladas?

A maconha é a droga ilícita mais facilmente encontrada. Segundo dados da UNIFESP, 60,9% dos estudantes consideram muito fácil conseguir maconha, sendo mais da metade desse total composto por jovens de 12 a 17 anos. Estes dados nos mostram que a maconha não é mais uma droga encontrada em alguns grupos, mas sim que pode estar presente em quase todas as reuniões de jovens. Além disso, a maconha de hoje é cerca de 50 vezes mais forte que a de 20 anos atrás e pode causar danos cognitivos no cérebro em formação, além do risco aumentado de desencadeamento de psicose e de esquizofrenia.

Quais são os fatores de risco que expõe ainda mais os jovens?

De acordo com os pesquisadores da UNIFESP, os fatores de risco ligados ao consumo das drogas são: maior poder aquisitivo, maior número de saídas noturnas e presença de modelos em casa.

Outros fatores de risco para o beber pesado episódico são o sexo (o risco aumenta em 70% entre os meninos), idade (50% para cada ano a mais), pais separados (30% mais risco), e não conversar com os pais (60%). A condição socioeconômica também influencia: o risco é duas vezes maior entre os alunos das escolas com mensalidade acima de R$ 1,2 mil. Sair à noite uma vez por semana aumenta as chances em 9,5 vezes. Sair à noite todos os dias aumenta as chances de comportamento de binge em 20 vezes.

O quê os pais podem fazer?

Devemos dar muita atenção à firmeza nas negociação de limites e aos exemplos familiares. O adolescente que arrisca no consumo de drogas também se arrisca em outros aspectos da vida.

Os pais podem tentar diminuir os fatores de risco a aumentar os fatores de proteção, ou seja, se você tem uma família reconstituída e um filho adolescente que estuda em uma escola cara, muito cuidado, pois esta pode ser uma mistura de risco. Monitore seu filho, tente compreender e manter a comunicação, mas seja firme e coloque os limites de forma muito clara.

As ações dos pais não devem focar apenas no controle do uso das substâncias, mas na tentativa de manter o vínculo com amor e com limites muito claros, contribuindo para o desenvolvimento global do adolescente. Conversar e saber o que se passa, sempre foi uma boa prática, mas infelizmente pode não ser mais suficiente.

Sabemos que encontrar o equilíbrio entre amor e limites não é tarefa fácil. Os adolescentes contestam os pais e o negativismo é uma forma de mostrar ao mundo que eles tem idéias próprias. O comportamento de oposição pode se manifestar por uma ligeira ansiedade e depressão e por discussões recorrentes sobre a vida e o mundo.

Temos observado que mundo de hoje está repleto de jovens superprotegidos que não aguentam a pressão dos pais e futuramente, não suportam a vida. Muitos destes irão buscar nas drogas um acalento que os tirem da sensação de enfrentamento e responsabilidade.

Tenha paciência. Nunca saia do lugar de educador, de pai e mãe, caso precise de ajude, procure ajuda profissional para avaliação e orientação psicológica.

Bibliografia

2010-09-12 00:00:00

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